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Os Três Paranás

                                     
Ilustração do jornal O Dia, em 1950, definia assim os três Paranás: Norte paulista, Oeste e Sudoeste gaúchos e Sul e o Leste como o Paraná antigo,  até  1853 a 5ª. Comarca de São Paulo


 Laranjeiras do Sul, 06 de Fevereiro de 2025.

Após a Guerra de Porecatu, que consolidou a pacificação no Norte do Paraná, em outubro de 1952 surgia, conforme reportagens da Folha de Londrina, um movimento que começava a ganhar força, com o objetivo de criar um Estado independente do Paraná, inspirado por movimentos separatistas como o do Triângulo Mineiro. A proposta ganhava adesão, principalmente em uma região historicamente marcada por disputas territoriais e interesses econômicos conflitantes.


Desde a sua emancipação de São Paulo, no ano de 1853, o Paraná sempre esteve sob o olhar atento dos paulistas, especialmente no Norte do Estado. As batalhas por terras férteis e recursos como o café e a madeira continuaram ao longo do século XX, com os jagunços de latifundiários paulistas frequentemente expulsando posseiros e estabelecendo tensões constantes.


Este clima de disputa também foi alimentado por um trauma histórico que remonta a 1916, quando o Paraná perdeu sua região Sudoeste para Santa Catarina na controversa Questão do Contestado. A derrota, combinada com a criação do Território Federal do Iguaçu (TFI) em 1943 e o apoio paulista para a anexação do Norte do Paraná, acirrou ainda mais as divisões regionais e alimentou os interesses separatistas.


Na década de 1950, o movimento para a criação de um Estado autônomo na região, eventualmente conhecido como "Estado do Paranapanema", ganhou força. A ideia tinha como pano de fundo a crescente insatisfação de cidades como Londrina e Maringá, que não viam suas reivindicações sendo atendidas pelo governo estadual. O bispo Jaime Luiz Coelho de Maringá, um dos principais defensores da causa, se destacava por sua atuação política e a fundação do jornal Folha do Norte do Paraná, mas sua proposta não obteve adesão significativa.


Em Londrina, as lideranças locais mantinham uma posição contrária ao separatismo, confiando que a integração com o restante do Estado fosse o melhor caminho. O governo estadual, liderado por Bento Munhoz da Rocha, buscava fortalecer a infraestrutura do Paraná e, assim, consolidar o Norte, Oeste e Sudoeste como regiões integradas. A obra de infraestrutura mais emblemática desse período foi a Rodovia do Cerne, projetada para conectar as diversas regiões do Estado com o Porto de Paranaguá, principal escoadouro da produção agrícola paranaense.


Munhoz da Rocha, com sua forte postura política, não apenas reafirmava a importância do Porto de Paranaguá, mas também visava promover o desenvolvimento agropecuário no Estado, com foco no café. A busca pela autossuficiência do Paraná e a luta contra as pressões externas de São Paulo acabaram sendo centrais em sua administração. Sua política de integração foi complementada pelo fortalecimento do Oeste paranaense, onde a colonização foi incentivada para aproveitar os recursos naturais e combater o êxodo de migrantes vindos de outros estados, como Rio Grande do Sul e Santa Catarina.


Apesar de os interesses separatistas persistirem, especialmente em regiões dominadas por colonizadores paulistas, o governo de Munhoz da Rocha implementou políticas que buscaram minimizar a influência externa. Durante a gestão, novos municípios começaram a ser formados no Oeste do Paraná, como Cascavel, Toledo e Guaraniaçu, criando uma rede de cidades menores, mas com grande potencial de crescimento.


Em 1952, o governo paranaense iniciou um ambicioso plano de colonização para atrair novos colonos para o Oeste, transformando a região em um polo produtivo. Este projeto visava, ao mesmo tempo, a ocupação territorial e a integração dos diferentes “Paranás” — o Paraná tradicional, o Norte Novo e o Oeste/Sudoeste — criando uma rede econômica mais sólida e interconectada.


A criação de novos municípios, como Cascavel e Francisco Beltrão, visava consolidar a presença do Estado no Oeste e Sudoeste, evitando que o movimento separatista ganhasse mais força. O município de Monteiro, uma pequena vila que já havia sido cogitada como a capital do Território Federal do Iguaçu, tornou-se um exemplo do planejamento estatal para fortalecer a presença do Paraná em regiões antes marginalizadas.


O arquiteto Gustavo Gama Monteiro, enviado pelo governo estadual, foi responsável por um projeto que buscava criar uma "cidade modelo" no sertão, uma metrópole planejada que refletia o poder do Estado no Oeste. As terras da "Colônia A", banhadas pelos rios Tourinho, Melissa e Piquiri, seriam transformadas em grandes propriedades agrícolas, com o foco na produção de café. O projeto, embora ambicioso, evidenciava a tentativa de o governo paranaense consolidar sua presença territorial e econômico-social nas áreas mais distantes do Estado.


Enquanto isso, o movimento separatista perdia força, principalmente em razão da estratégia de criação de municípios e do fortalecimento das estruturas de transporte e infraestrutura no Estado. O governo de Munhoz da Rocha se manteve firme na defesa da unidade do Paraná, contestando a narrativa de abandono propagada pelos separatistas.


Assim, em meio a tensões e disputas, o Norte do Paraná, que um dia parecia fadado a se separar do restante do Estado, tornou-se um exemplo da capacidade de integração política e territorial. A iniciativa de fortalecer o interior, com um olhar voltado para o futuro agropecuário e a preservação dos recursos naturais, contribuiu para que a unidade paranaense se mantivesse sólida, e o movimento separatista que tentava dividir o Estado não fosse mais que um capítulo secundário na história do Paraná.


Fonte: Coluna Alceu Sperança, Jornal Preto No Branco. Conquistar o Oeste para não perder o Norte

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