A Trágica Odisseia Coral: A Excursão da Morte do Santa Cruz em 1943

Em 1943, o Santa Cruz embarcou em uma jornada que se transformaria em um pesadelo. A excursão, inicialmente planejada para impulsionar as finanças do clube através de amistosos no Norte e Nordeste do Brasil, logo se viu assolada por ameaças de guerra, perigosas viagens de navio e, tragicamente, a perda de seus jogadores. O que começou como uma aventura esportiva se tornou uma luta pela sobrevivência, marcada por perdas irreparáveis.

O ponto de partida foi Recife, em 2 de janeiro, com destino a Natal, Rio Grande do Norte. Em plena Segunda Guerra Mundial, a viagem de navio exigiu escolta da Marinha Brasileira, devido à presença de submarinos alemães na costa. Apesar do clima de tensão, o time chegou a Natal em segurança e iniciou a série de amistosos com uma vitória expressiva.

A excursão tinha como objetivo seguir para Belém, no Pará, e, posteriormente, retornar a Recife. No entanto, a necessidade de arrecadar fundos para manter o clube motivou a equipe a aceitar um convite para estender a jornada até Manaus, no Amazonas. As viagens, realizadas principalmente por navio, eram longas e exaustivas, mas representavam a única opção viável para um clube com recursos limitados.

Em Manaus, após uma sequência de jogos, a saúde de alguns jogadores começou a deteriorar-se. O goleiro King e o atacante Papeira apresentaram quadros graves de intoxicação alimentar, que se agravaram durante a viagem de volta para Belém. A situação se tornou crítica, com a proibição da navegação na costa brasileira devido à intensificação da guerra, impedindo o retorno imediato para Recife.

A tragédia se consumou em Belém, com a morte de King, vítima de febre tifoide. Papeira também não resistiu à doença, falecendo poucos dias depois. A manchete do Diário de Pernambuco estampava: “O Santa Cruz anuncia novos jogos, apesar da morte de dois de seus jogadores”, refletindo a dura realidade enfrentada pelo clube, que precisava desesperadamente de recursos para bancar sua permanência na cidade e o eventual retorno para casa.

A saga de volta para Recife foi tão árdua quanto a própria excursão. Após uma série de amistosos em Belém, a equipe enfrentou dificuldades de transporte, incluindo uma viagem de trem com detentos e descarrilamentos. Em São Luís, a retenção do navio exigiu mais jogos para cobrir os custos. O retorno, marcado por escalas em Teresina e Fortaleza, só se concretizou quase quatro meses após o início da jornada.

Apesar de todas as adversidades, o Santa Cruz persistiu, demonstrando uma resiliência notável. O vice-campeonato pernambucano conquistado ao final daquele ano, em meio ao caos e à dor, é um testemunho da força e da determinação do clube. A excursão da morte, como ficou conhecida, se tornou um capítulo sombrio na história do Santa Cruz, mas também uma lição de resistência e superação.

Fonte: http://esporte.ig.com.br

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