Por Aldrovando Cantagalo – Correspondente em Quedas do Iguaçu
O cenário político na Câmara Municipal de Quedas do Iguaçu (PR) atualmente está sendo marcado por uma intensa disputa que transcende o debate legislativo, concentrando-se em acusações mútuas sobre o uso de recursos públicos, especialmente as diárias de viagem.
Desde que a vereadora Carlise Priscila Kazmierczak assumiu a presidência interinamente, em decorrência do afastamento do então presidente Rodolfo Revers por decisão judicial ligada à Operação Tanque Cheio do GAECO, a Casa se tornou palco de um embate que coloca a gestão da nova presidente em contraponto com outros vereadores. A crise se aprofundou com a discussão sobre o remanejamento orçamentário e a veiculação de informações oficiais, com diversos cortes das falas dos vereadores circulando pelas redes sociais.
O ponto central da controvérsia reside nos gastos com diárias, uma verba destinada a cobrir despesas de viagem dos parlamentares em busca de recursos e agendas fora do município. A presidente interina, Carlise Priscila, defende publicamente que seus gastos são menores em comparação com outros colegas, sugerindo que os ataques que sofre têm um viés político e de gênero, por ser a única mulher eleita na Câmara.
Por outro lado, dados apresentados por outros vereadores tentam confrontar que ela também teve consideráveis gastos com diárias. Porém, dados enviados pela própria presidente sobre estes gastos, no período entre janeiro a setembro de 2025, mostram o seguinte:
Vereador e Diárias (Jan–Set 2025):
CLAUDELEI TORRENTE – R$ 13.324,32
CARLISE PRISCILA – R$ 12.162,57
REGINALDO DOS SANTOS – R$ 11.910,55
RODOLFO REVERS – R$ 11.653,11
JOCE FREITAS – R$ 10.901,18
DIRCEU DA ROSA – R$ 9.992,74
ADILSON POLESE – R$ 5.653,22
ELEANDRO DA SAÚDE – R$ 4.528,75
HENRIQUE NORO – R$ 4.239,99
EDIMIR KOZAK – R$ 3.431,85
JACIR DOS SANTOS – R$ 3.882,17
CIDÃO – R$ 2.826,23
PRETO BENTO – R$ 2.422,48

Fonte: Câmara Municipal de Quedas do Iguaçu / dados fornecidos pela vereadora Carlise Priscila Kazmierczak
A polêmica se intensificou com a viagem da presidente Carlise a Florianópolis (SC) para participar do evento Summit Cidades 2025, entre os dias 23 e 27 de junho de 2025. O empenho registrado em documentos oficiais aponta o pagamento de R$ 5.000,00, referente a quatro diárias, com o acréscimo de 70% devido ao deslocamento ter sido realizado com veículo próprio. Na mesma semana, o presidente afastado, Rodolfo Revers, viajou a Brasília (DF), entre os dias 23 e 27 de junho, e recebeu R$ 6.750,00, referentes a 4,5 diárias, com acréscimo de 100% por deslocamento aéreo.
Os documentos demonstram que, apenas em junho, o total de diárias pagas pela Câmara somou R$ 25.665,21, contemplando vereadores e servidores. Apesar disso, a repercussão nas redes sociais e no plenário concentrou críticas quase exclusivamente sobre a presidente em exercício, que veio a se defender, em mensagem enviada à redação do Pio do Jacu e dos nossos demais portais.
“Na mesma semana em que participei de um curso em Florianópolis, representando a Câmara e investindo na qualificação do Legislativo, recebi R$ 5 mil em diárias. No mesmo período, o presidente afastado viajou a Brasília e recebeu R$ 6.750,00. Curiosamente, quem passou a ser atacada e criticada fui apenas eu. Fica a reflexão: será que o problema realmente é o valor das diárias ou o fato de eu ser a única mulher eleita nesta Câmara? As mulheres na política ainda enfrentam julgamentos diferentes, mesmo quando cumprem as mesmas funções. Chegou a hora de medir todos pela mesma régua, com justiça, transparência e respeito.” – comenta e indaga a presidente Carlise.
O conflito tem histórico
A discussão sobre as diárias é apenas parte de um conflito mais amplo. Durante a votação do Projeto de Resolução nº 003/2025, que previa um remanejamento orçamentário de R$ 330 mil, a presidente viu sua proposta reduzida para R$ 150 mil após uma emenda aprovada por ampla maioria (11 votos a 1). Os vereadores justificaram a mudança alegando falta de clareza sobre o destino dos R$ 180 mil restantes. Carlise argumentou que os recursos seriam utilizados em projetos institucionais, como a atualização do regimento interno, licitação de cursos e modernização do processo legislativo.
A maioria dos parlamentares defendeu a emenda como exercício legítimo de fiscalização, enquanto a presidente considerou a decisão uma forma de retaliação política. O embate se estendeu às redes sociais, onde as narrativas divergentes ampliaram o clima de tensão dentro e fora da Câmara.
Outro ponto que contribuiu para o atrito foi o corte de serviços assistenciais que a Casa costumava oferecer, como cópias gratuitas e transporte de pacientes. Carlise defendeu as mudanças como medidas de adequação legal e de prevenção a questionamentos de órgãos de controle, mencionando que o serviço de xerox está sendo discutido com a Secretaria de Assistência Social para futura regulamentação. Parte dos vereadores, entretanto, argumentou que as mudanças prejudicam a população e que seria possível regulamentar os serviços, em vez de extingui-los.
O cenário evidencia uma divisão profunda na Câmara: de um lado, a presidente interina busca consolidar uma gestão pautada na austeridade, legalidade e transparência, revisando práticas adotadas há anos; de outro, parte dos vereadores critica a condução das mudanças, alegando falta de diálogo e interpretando algumas medidas como ações voltadas à valorização de sua própria gestão.
A disputa na Câmara de Quedas do Iguaçu, pelo jeito está longe do fim. Entre versões, justificativas e trocas de acusações, o clima político segue acirrado e promete novos desdobramentos nas próximas semanas.



Diárias do mês de junho de 2025, alvo de polêmicas (Dados Oficiais)
(Matéria retificada com novos dados, mantendo a coerência e isenção jornalística)
Autor: Aldrovando Cantagalo é escritor, jornalista, músico e crítico literário. Representa a equipe Fatos e Boatos do Iguaçu no município de Quedas do Iguaçu (PR) e faz uso do referido nome artístico por ser fã declarado da obra de Monteiro Lobato.
