O discurso do presidente Lula na Assembleia Geral da ONU visava, em tese, projetar o Brasil como líder multilateral. Entretanto, analistas apontam para uma estratégia mais focada na reeleição em 2026, utilizando o palanque internacional para polarizar o debate interno. A defesa de um suposto multilateralismo, entretanto, esconde uma narrativa de confronto com os Estados Unidos que pode ter se mostrado contraproducente.
A fala de Lula articulou-se em torno da vitimização do Brasil e da crítica a opositores. Ao denunciar “medidas unilaterais e arbitrárias”, o presidente mirava seu eleitorado doméstico, consolidando a imagem de um líder sob ataque de forças externas e internas. A referência à “extrema direita subserviente” transformou o fórum global em palco para disputas internas.
Internacionalmente, o governo sinalizou alinhamento com potências que rivalizam com o Ocidente. A equiparação do conflito em Gaza a um “genocídio” e a defesa das preocupações de segurança da Rússia no contexto ucraniano são exemplos dessa postura. Tal posicionamento indicaria a ambição de Lula de liderar o chamado “Sul Global” em contraposição à ordem estabelecida.
Apesar da retórica, a necessidade de pragmatismo ficou evidente em um encontro fortuito. Um breve encontro de 20 segundos com Donald Trump, com direito a abraço e promessa de reunião futura, expôs a fragilidade da estratégia. A rápida reação positiva do mercado financeiro ao aceno de diálogo com os EUA demonstra a busca por estabilidade e negociação.
Em um momento crucial para pavimentar o caminho para 2026, Lula se vê em uma encruzilhada. A retórica de confronto, essencial para engajar sua base, agora colide com a necessidade de negociar com o país que ele criticou. Resta saber se o presidente conseguirá equilibrar as demandas internas e externas, evitando o isolamento e o prejuízo econômico.
Fonte: http://revistaoeste.com